Israel levou a cabo um “massacre abominável” (nas palavras do governo do Qatar) no norte da Faixa de Gaza, na quinta-feira, que resultou na morte de mais de 100 pessoas e em mais de 700 feridos, segundo a Cruz Vermelha. As vítimas – civis – encontravam-se a agurdar a entrega de comida.
Telavive negou o ataque, afirmando que as Forças de Defesa de Israel (FDI) “estavam a garantir a segurança do corredor humanitário para que o comboio humanitário pudesse chegar ao destino, no norte de Gaza”.
O Ministério da Saúde do movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, acusou o exército de disparar sobre a multidão. “O ataque foi premeditado e intencional, no contexto do genocídio e da limpeza étnica do povo da Faixa de Gaza. O Exército de ocupação sabia que estas vítimas tinham vindo para esta zona para obter alimentos e ajuda, mas matou-as a sangue frio”, acusou o Hamas.
Vários países pressionam Israel no sentido de que seja permitida a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 2.300 camiões com ajuda humanitária entraram em Gaza em fevereiro, menos 50% do que em janeiro. O Hamas acusou “a ocupação” de tentar “matar à fome” os habitantes de Gaza e afirma que mais de 700 mil pessoas estão a sofrer de fome no norte do enclave.
UE e ONU condenam ataque, bem como os EUA
O caso gerou ondas de choque pelo mundo inteiro, com críticas de instituições como a União Europeia e as Nações Unidas, bem como dos Estados Unidos. O Conselho de Segurança da ONU, aliás, reuniu-se de emergência na quinta-feira, qualificando o ocorrido como um “grave incidente”, quando “palestinianos inocentes apenas tentavam alimentar as suas famílias”.
Em declarações divulgadas pela cadeia televisiva CNN, um porta-voz do Conselho de Segurança dos EUA afirmou que a matança em Gaza “sublinha a importância de aumentar e manter o fluxo de ajuda humanitária, inclusive através de um possível cessar-fogo temporário”. “Continuamos a trabalhar dia e noite para alcançar esse fim”, acrescentou.
O presidente norte-americano, por sua vez, recuou nas afirmações de que esperava um cessar-fogo em Gaza até segunda-feira. A interrupção das hostilidades “provavelmente não acontecerá” até então, disse Joe Biden, afirmando que “há duas versões contraditórias do que aconteceu” no norte de Gaza. “Ainda não tenho uma resposta”, argumentou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, “condenou o incidente”, manifestando-se “consternado com o trágico custo humano do conflito”. Já o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, alertou que “a vida está a deixar Gaza a um ritmo aterrador”.
Por sua vez, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, denunciou uma “nova carnificina” e mortes “totalmente inaceitáveis” de “civis que estavam desesperados por ajuda humanitária” no norte de Gaza, dizendo-se “horrorizado”.
As reações internacionais
A “matança” gerou também críticas de diferentes governos, entre eles o português, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, a confessar-se “profundamente chocado”. “Os civis e as operações humanitárias devem estar seguros ao abrigo do DIH [Direito Internacional Humanitário]”, sublinhou.
Em França, o presidente Emmanuel Macron manifestou “profunda indignação” face ao ataque. “Um cessar-fogo deve ser implementado imediatamente para permitir a distribuição de ajuda humanitária”, acrescentou.
A ele juntou-se a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, que disse que a China está “profundamente triste com este incidente”, condenando-o “veemente”, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia, que, citado pela agência palestiniana WAFA, disse que “Israel acrescentou outra entrada à sua lista de crimes contra a humanidade”.
O Exército israelita lançou uma ofensiva contra Gaza em retaliação aos ataques do grupo islamita palestiniano de 07 de outubro, que provocaram quase 1.200 mortos e 240 raptados.
Desde então, as autoridades de Gaza relataram a morte de mais de 30.000 palestinianos, além de mais de 400 na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, devido às ações das forças de segurança e aos ataques israelitas.