“Na realidade, queremos que Nelson Mandela volte. Queremos que ele nos salve novamente”, sublinhou a Fundação Mandela na apresentação da exposição, na passada quinta-feira, frisando que pretende destacar a “urgência do contexto” em que os sul-africanos atualmente vivem, e “reconhecer que ninguém vem nos salvar”.
Nelson Mandela, que morreu em 05 de dezembro de 2013, com 95 anos, foi eleito primeiro chefe de Estado negro nas primeiras eleições multirraciais e multipartidárias em 1994. Trinta anos depois, o país tornou-se uma democracia e o ANC enfrenta a sua quase “liquidação política”, segundo analistas, após se afastar radicalmente da ética do antigo fundador do movimento de libertação, abandonando também o projeto social inter-racial construído pelo líder histórico sul-africano.
Uma década após a sua morte, a igualdade por que Nelson Mandela lutou está esquecida pelo partido no poder, sendo hoje mais sentida “com saudade” por lusodescendentes do que pela maioria negra que o líder histórico queria unir numa “Nação do Arco íris”, considerou o conselheiro português Vasco Pinto de Abreu, à Lusa.
“Infelizmente o seu pensamento não frutificou, e é uma pena porque um homem que lutou toda a sua vida pela emancipação e pela união do povo sul-africano, hoje em dia está esquecido”, referiu.
“Comemoram-se certas datas, mas já se esqueceu todos os seus ensinamentos e a comunidade portuguesa sente falta disso, ainda relembra com saudade o seu nome porque hoje vemos os nossos filhos e os nossos netos a serem discriminados”, adiantou.
Na ótica de Vasco Pinto de Abreu, natural de Moçambique – país vizinho de onde saiu em 1975 -, hoje na atual África do Sul democrática “quem é discriminado é o branco”.
“Quem é discriminado são os nossos filhos e os nossos netos, quando nós não tivemos participação ativa no sistema do ‘apartheid’, e a África do Sul só teria a ganhar com a colaboração de todos e o trabalho de todos”, sublinhou.
Em contraste com a exposição da Fundação Mandela, que procura instar também os sul-africanos a encerrarem “este luto”, o conselheiro português considerou que Mandela representa a “esperança” que os jovens lusodescendentes têm de ficar no país, a economia mais desenvolvida de África, “porque é a sua terra”, mas avisa: “Se a África do Sul não mudar de rumo, os nossos jovens não têm grandes oportunidades na África do Sul”.
“Porque chega a um ponto em que metem o seu canudo ou o seu dinheiro debaixo do braço e vão para outros países, e procuram outros pastos onde a erva seja maior, e estou a falar de países, por exemplo, como os Países Baixos ou o Reino Unido […], os mais qualificados têm procura e vão, aliás, como nós fizemos, muitos de nós saíram de Portugal porque não havia oportunidades, porque Portugal estava em constante crise económica, havia grande desemprego e aqui está-se a passar o mesmo”, frisou.